Bebês sofrem queimaduras e lesões durante partos em maternidade de Manaus, apontam denúncias
21/10/2025
(Foto: Reprodução) Mães denunciam partos com complicações graves e falhas médicas em hospital público do AM
Mães e funcionários do Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, denunciaram casos de violência obstétrica, falhas médicas e erros durante partos na unidade.
Entre os relatos, estão o de um bebê ferido por um bisturi elétrico e de outras crianças que sofreram lesões graves após complicações no nascimento.
Documentos internos obtidos pela Rede Amazônica também indicam deficiências na capacitação dos profissionais que atuam no hospital.
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Mariana dos Santos Batista, que deu à luz no fim de agosto, contou que chegou ao hospital com dores intensas durante a madrugada, mas só passou por uma cesariana de emergência por volta das 9h da manhã. O bebê nasceu com quase cinco quilos e permanece internado desde então.
“O neném estava defecando e comendo o próprio cocô dentro da barriga. Já era um caso grave, mas demoraram demais”, relatou Mariana.
A mãe afirma que um dos médicos tentou convencê-la a ter parto normal, mesmo com o histórico de obesidade, hipertensão e diabetes. “Eles sabiam dos meus riscos. Essa demora me prejudicou muito”, disse.
Segundo Mariana, os médicos informaram que o bebê nasceu com problemas pulmonares e cardíacos, além de uma lesão no braço — atribuída pela equipe à má formação fetal.
Dois obstetras ouvidos pela reportagem, que analisaram a ferida, acreditam que o ferimento pode ter ocorrido durante o parto, possivelmente por manuseio inadequado.
Relatórios internos e novos casos
Um relatório interno de setembro, ao qual a Rede Amazônica teve acesso, descreve outro caso grave: o parto de uma jovem de 18 anos, em que apenas o corpo do bebê saiu inicialmente, ficando a cabeça presa no canal vaginal por cerca de dez minutos.
O recém-nascido sofreu parada cardiorrespiratória e trauma genital.
Outro caso relatado foi o de um bebê que sofreu uma queimadura provocada por um bisturi elétrico durante o parto.
Sindicato e Conselho apontam falta de estrutura
O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mario Vianna, afirmou que a situação no Instituto da Mulher se agravou após a unidade — assim como o Hospital 28 de Agosto — passar a ser administrada por uma empresa de Goiás.
“Há denúncias de sobrecarga de trabalho, falta de insumos e até de estudantes de medicina realizando procedimentos que deveriam ser feitos por profissionais formados. É gravíssimo”, disse.
A conselheira do Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM), Shirllane Rodrigues, afirmou que a entidade já realizou fiscalizações, mas que tem limitações legais para intervir.
“Não temos poder de polícia. Quando identificamos algo grave, encaminhamos imediatamente ao Ministério Público, que pode agir judicialmente”, explicou.
O que diz a Secretaria de Saúde
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) negou que o bebê citado na reportagem tenha sido vítima de violência obstétrica. A pasta afirmou que o ferimento no braço foi causado ainda no útero.
Sobre o parto pélvico da jovem de 18 anos, a secretaria informou que o procedimento seguiu os protocolos obstétricos e que o bebê recebeu cuidados intensivos, tendo alta sem sequelas.
A SES confirmou o caso do bebê queimado por bisturi elétrico e disse que o ferimento foi tratado com curativos, sem necessidade de cirurgia.
A secretaria destacou ainda que todos os médicos da unidade possuem registro de especialização em conselhos de outros estados e estão em processo de regularização no Conselho Regional de Medicina do Amazonas. Também afirmou que residentes e estudantes atuam sob supervisão, conforme diretrizes do Ministério da Saúde.
O Ministério Público do Amazonas foi procurado, mas ainda não se manifestou sobre as denúncias.
Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus.
Reprodução/Rede Amazônica