Inundação severa do Rio Negro alaga ruas do Centro de Manaus e prejudica trabalhadores
02/07/2025
(Foto: Reprodução) Água já encobre ao menos duas ruas que dão acesso ao Mercado Municipal Adolpho Lisboa, cartão-postal da cidade. Nesta quarta-feira (2), o Rio Negro marca 29,02 metros - ficando a exato um metro da marca histórica. Centro de Manaus tem ruas alagadas após Rio Negro atingir cota de inundação severa
Trabalhadores e frequentadores do Centro de Manaus estão sentindo os impactos da cheia após o Rio Negro atingir a cota de inundação severa na capital amazonense, no último dia 28. A água já encobre ao menos duas ruas que dão acesso ao Mercado Municipal Adolpho Lisboa, cartão-postal da cidade. Veja o vídeo acima.
De acordo com a Defesa Civil do Amazonas, nesta quarta-feira (2), o Rio Negro marca 29,02 metros - ficando a exato um metro da marca histórica de 2021. O nível se mantém estável desde o domingo (30).
A cheia dos rios no estado já afeta mais de 525 mil pessoas, segundo o boletim mais recente da Defesa Civil do Estado, divulgado na terça-feira (1º). Atingidos enfrentam dificuldades para se deslocar, perdas na produção agrícola e alagamentos em residências.
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O Mercado Municipal Adolpho Lisboa fica localizado em frente a orla do Porto de Manaus, às margens do Rio Negro, e recebe centenas de visitantes diariamente. A travessa Tabelião Lessa, na lateral do local, faz a ligação da rua diretamente ao rio. Durante a cheia, a água costuma inundar a travessa e alagar as vias no entorno do mercado.
Foi o que aconteceu na rua dos Barés, que dá acesso a parte de trás do ponto turístico. Por lá, a água encobre o asfalto, preocupando motoristas e feirantes. Elielson Silva trabalha com o transporte de produtos e passageiros no Centro e disse que a situação o prejudica.
"Está atrapalhando a locomoção. Para a gente atravessar aqui só se for de canoa", ironizou. "Atrapalha tudo, a gente precisa transportar e daqui alguns dias ninguém passa mais", completou o motorista.
Rua dos Barés, no Centro de Manaus
Lucas Macedo/g1 Amazonas
Já para o empurrador de cargas Geovani Kennedy, a cheia oferece risco para os produtos que são comercializados pelo Centro e que podem ser danificados caso entrem em contato com a água.
"Às vezes é arriscado a gente deixar o produto cair e acabar molhando. Isso acaba impactando, atrapalha muito os trabalhadores aqui do Centro, principalmente os que trabalham com carga. Também atrapalha o trânsito, tanto os motociclistas quanto os que dirigem carros", relatou.
Carregadores no Centro de Manaus improvisam pallets para driblar rua alagada pela cheia do Rio Negro.
Rede Amazônica
O g1 questionou a Defesa Civil de Manaus sobre quais ações estão sendo tomadas para amenizar os transtornos na área do Mercado Municipal, mas até a atualização mais recente desta reportagem não houve resposta.
O órgão, no entanto, afirmou que já construiu mais de três quilômetros de pontes em áreas afetadas e que segue trabalhando em ações para reduzir os impactos da cheia à população.
"As famílias que não conseguem ter acesso a sua casa, ou que ainda não construímos as pontes, são encaminhadas para nossa secretária para disponibilizar possível auxílio aluguel e outras medidas como rancho (cesta básica)", explicou o tenente-coronel Lima Júnior.
Apesar de intensa, cheia não deve bater recorde
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a previsão é que o rio não atinja a marca histórica de 30,02 metros, registrada em 2021. A estimativa foi divulgada no 3º Alerta de Cheias da Bacia do Amazonas de 2025.
O monitoramento do Rio Negro é feito com base nas cotas de medição, tendo como referência a cheia recorde de 2021. Veja classificação abaixo.
🔴 Cota máxima registrada (2021): 30,02m
🟠 Inundação severa: 29,00m
🟡 Inundação: 27,50m
⚪ Alerta: 27,00m
➡️ Confira a evolução do nível do rio entre 2 de junho e 2 de julho deste ano no gráfico abaixo:
Em contraste com o atual cenário, em 2024 o rio registrou o menor nível da história: 12,11 metros. A seca severa afetou comunidades ribeirinhas, isolou áreas e impactou milhares de pessoas. Agora, a cheia traz novas preocupações.
No bairro Educandos, Zona Sul de Manaus, moradores reivindicam a construção de pontes de madeira para garantir o acesso às residências, especialmente nas áreas mais atingidas pelos alagamentos.
A aposentada Francisca de Alencar relata que a parte inferior de sua casa já foi completamente invadida pela água contaminada do igarapé.
"Alagou porque choveu, e aí vai enchendo. Ainda está enchendo, não muito, mas está", contou.
Cenário no Amazonas
Até esta quarta-feira, 40 dos 62 municípios do estado estão em situação de emergência devido ao fenômeno. Veja a lista:
Guajará - Rio Juruá;
Ipixuna - Rio Juruá;
Itamarati - Rio Juruá;
Eirunepé - Rio Juruá;
Juruá - Rio Juruá;
Carauari - Rio Juruá;
Boca do Acre - Rio Purus;
Borba - Rio Madeira;
Nova Olinda do Norte - Rio Madeira;
Apuí - Rio Madeira;
Humaitá - Rio Madeira;
Manicoré - Rio Madeira;
Novo Aripuanã - Rio Madeira;
Atalaia do Norte - Rio Solimões;
Benjamin Constant - Rio Solimões;
Santo Antônio do Içá - Rio Solimões;
Tonantins - Rio Solimões;
Amaturá - Rio Solimões;
Fonte Boa - Rio Solimões;
Maraã - Rio Solimões;
São Paulo de Olivença - Rio Solimões;
Japurá - Rio Solimões;
Tefé - Rio Solimões;
Coari - Rio Solimões;
Jutaí - Rio Solimões;
Careiro da Várzea - Rio Solimões;
Careiro - Rio Solimões;
Manaquiri - Rio Solimões;
Anamã - Rio Solimões;
Careiro - Rio Solimões;
Anori - Rio Solimões;
Caapiranga - Rio Solimões;
Itacoatiara - Rio Negro;
Itapiranga - Rio Negro;
Boa Vista dos Ramos - Rio Negro;
Santa Isabel do Rio Negro - Rio Negro;
Manacapuru - Rio Solimões
Uarini - Rio Solimões
Urucurituba - Rio Amazonas
Alvarães - Rio Solimões
Além dos municípios em emergência:
18 estão em estado de alerta;
e quatro em situação de normalidade.
De acordo com dados da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc), 444 alunos foram impactados pela cheia dos rios em quatro municípios: Anamã, Itacoatiara, Novo Aripuanã e Uarini. Os alunos seguem com o calendário do “Aula em Casa”, programa de ensino remoto.
Em Anamã, no interior do estado, moradores adaptaram-se a realidade causada pela cheia transformando as ruas alagadas em balneários improvisados.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra adultos e crianças tomando banho, interagindo com animais, dançando e navegando em botes.
Apesar da aparente leveza de alguns momentos, a enchente acende um alerta para riscos à saúde, principalmente devido à contaminação das águas.
Vídeo com moradores de Anamã se divertindo em ruas alagadas por cheia viralizou nas redes
Segundo o Governo do Amazonas, para auxiliar os afetados pela cheia já foram enviados 580 toneladas em cestas básicas, 2.450 caixas d’água de 500 litros, 57 mil copos de água potável da Cosama, além de 10 kits purificadores do programa Água Boa e uma Estação de Tratamento Móvel (Etam) para dezoito municípios.
Também foram destinados 72 kits de medicamentos para os municípios de Apuí, Boca do Acre, Manicoré, Humaitá, Ipixuna, Guajará e Novo Aripuanã, beneficiando mais de 35 mil pessoas.
Manicoré recebeu uma nova usina de oxigênio, com capacidade para produzir 30 metros cúbicos por hora, destinada ao hospital municipal. Já Apuí, foi contemplado com seis cilindros de oxigênio para servir como reserva de segurança.