Pesquisadores do Amazonas apontam contaminação por plástico na Amazônia e riscos à saúde de populações
16/09/2025
(Foto: Reprodução) O objetivo do estudo foi o de explorar e sintetizar a literatura científica que avaliou a presença de poluição plástica (macro, meso, micro e nanoplástico) em diversos cenários ambientais na Amazônia, como fauna, flora, sedimentos e água.
Michell Mello/Fiocruz Amazônia
Um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá alerta para a contaminação por plásticos na Amazônia. O estudo mostra que o problema afeta rios, florestas e pode trazer riscos à saúde de populações vulneráveis. A pesquisa analisou trabalhos científicos sobre a presença de resíduos plásticos — desde os maiores até os microscópicos — em animais, plantas, sedimentos e na água da região.
A poluição plástica na Amazônia ainda é pouco estudada, mas já preocupa pesquisadores. Comunidades ribeirinhas e indígenas convivem diariamente com toneladas de lixo flutuante, jogado por moradores, embarcações e até pelas próprias comunidades. Esses resíduos podem viajar por rios, cruzar fronteiras e chegar aos oceanos. O estudo foi publicado na revista científica AMBIO, voltada para temas ambientais com impacto social.
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Pesquisadores do Instituto Mamirauá vivem em Tefé, no interior do Amazonas, e acompanham de perto a realidade das comunidades ribeirinhas. Eles relatam que, no interior do Amazonas, o lixo doméstico antes era majoritariamente orgânico. Mas, hoje, os rios estão repletos de garrafas PET e embalagens plástica.
“Essas comunidades não têm estrutura para coleta de lixo. Antes, os resíduos eram orgânicos, como cascas de frutas e espinhas de peixe. Hoje, é comum ver garrafas PET e embalagens de macarrão boiando nos rios”, relatam.
Segundo o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, o estudo foi feito diante da urgência de enfrentar o problema, especialmente com a proximidade da COP30, que será realizada na região.
“O prazo final para que cerca de 180 países concluam o primeiro tratado global contra a poluição plástica é 14 de agosto. Por isso, é hora de debater os resultados dessa revisão científica, a primeira a usar o protocolo PRISMA-ScR para avaliar a presença de plástico nos ecossistemas da Amazônia”, afirma.
Orellana destaca que o problema pode ser ainda mais grave.
“Analisamos 52 estudos revisados por especialistas, com relatos de lixo e fragmentos de plástico em diferentes áreas da Amazônia. Isso mostra que o impacto é bem maior do que se imagina”, disse.
O artigo “Plastic pollution in the Amazon: the first comprehensive and structured scoping review” foi produzido por pesquisadores da Fiocruz Amazônia e do Instituto Mamirauá, sob coordenação de Jesem Orellana. A bióloga Jéssica Melo, autora principal, aponta que há plástico em toda a Amazônia — em rios e na terra — e reforça a necessidade de mais estudos sobre o tema.
Jéssica Melo lembra que a poluição plástica é um problema global, mas os estudos se concentram nos oceanos.
“A Amazônia, maior bacia hidrográfica do mundo e com o segundo rio mais poluído por plástico, ainda recebe pouca atenção científica”, afirma.
Ela destaca que não há registros de nanoplásticos na região, embora esse tipo de resíduo já preocupe outras partes do planeta.
“A contaminação de alimentos e da água ameaça a saúde de populações tradicionais. Faltam pesquisas em áreas remotas, em fauna não piscícola e em países vizinhos. É urgente investir em gestão de resíduos e educação”, diz.
Políticas públicas
Orellana compara a situação da Amazônia com outras cidades do país.
“Enquanto lugares como Rio de Janeiro e Salvador proíbem itens como canudos plásticos e isopor, não conheço nenhum município do interior do Amazonas com coleta seletiva ou ações para reduzir o impacto do plástico. Precisamos de políticas públicas que considerem o isolamento das comunidades e ofereçam soluções reais para o acúmulo de lixo na região”, afirma.